Ele nao gostava de falar do passado e nem da infância. Como se tudo o que vivera fosse um erro. Sempre que lembrancas vinham à mente, fugia delas, se esquivando. Encontrava uma saída nao muito ortodoxa para se esconder. Como quando fazia em crianca, fugindo de amigos numa brincadeira de esconde esconde. O pai severo, a mae insípida. A voz alta e reta, quase sempre como uma ordem de um sargento a um soldado raso. As eternas proibicoes. - Nao faca isso, nao faca aquilo, fez errado de novo! - O galho seco na botinha no lugar do chocolate, no natal, como sinal de repreensao. Um menino triste, sem irmaos ou grandes amigos. Cresceu tímido. Na defensiva. Porém, pronto para atacar com palavras, assim como aprendeu na infância. Nunca apanhou dos pais com cinta ou chinelo, mas fora espancado por eles com palavras duras, cruas, secas. Nunca soube o que era um elogio. O futuro seria duro e difícil. Nos encontros em família só se falava em dinheiro, poupanca, estudos, trabalho, como se o