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Mostrando postagens de janeiro, 2017

Quando penso em voltar ao Brasil...

Há alguns anos, uma tia-avó do meu marido, de 94 anos, nascida na República Checa e que veio morar na Alemanha ainda muito jovem, me perguntou se eu sentia saudade do Brasil. Ao ouvir minha resposta negativa, ela só se ateve a falar: espere, com o tempo a saudade virá.  Nao dei importância ao que ela disse, e até mesmo dei uma risadinha quase arrogante: "ela nao conhece o meu país!". Até anteontem, esse tempo ainda nao havia chegado. Mas ontem, finalmente, ele veio. Muito provavelmente, estou escrevendo sob efeito dos hormônios, que me deixam meio que fora do meu normal, todo santo mês. "Mulher é bicho esquisito", como diria Rita Lee, "todo mês sangra". Sangramos na alma também, em alguns desses meses... Sempre disse a mim mesma que nao queria ser como muita gente que já encontrei aqui, infeliz por morar longe do país em que nasceu, falando mal da Alemanha por anos. Sempre enchi a boca pra falar "se está infeliz, porque nao volta?",

João e Maria

Ele chegou como sempre, todo serelepe no portão de casa, gritando o nosso nome. Os nomes das três meninas da casa. Saímos todas ao mesmo tempo. Ele tinha chegado das férias! Como é duro quando os amigos viajam e a gente não, e como eles demoram a chegar! A rua C ficava vazia, o eco era ouvido no fim da rua, e o som era de saudade. Nada tinha muita graça sem os melhores amigos por perto. Mas ele chegou! E como sempre, cheio de novidades. O cabelo levemente ondulado, os olhos vivos e puxados,  a boca cheia de dentes (sempre me pareceu ter mais dentes que o normal), vestido com sua indefectível camisetinha regata, lá estava ele, mostrando a pele magrinha, bronzeada da praia, cheirando a mar e vibrando nas histórias que tinha para contar. Histórias de longe, que nos deixavam com a imaginação ativa, viajando pelo menos, poeticamente e  dentro da possibilidade, das palavras de Buarque.  Nunca tínhamos saído de Manaus e o mais longe que já tínhamos ido, fora até o Planeta dos Macacos

Compras e insatisfação cristã

Sabe aquela sensação que você tem quando chega em casa depois de perfeitas compras e faz aquela cara de "ai que saco"?! Eu sou assim. Na hora da compra é a maior empolgacao, saio da loja toda feliz, mas com o tempo, até chegar em casa e desempacotar tudo, a alegria vai sendo enrolada como as peças, devagar e melancolicamente. E vai caminhando para algum lugar desconhecido e vazio, até que desaparece. Então, uma onda nostalgicamente solitária, toma o seu lugar no peito, surgindo uma falta de alguma coisa que... só vai se completar, na próxima compra. É uma bola de neve. Não gosto de pensar que compramos por insatisfação, mas parece que há comprovações quanto a isso, não é?! Será verdade que quanto maior a insatisfação, maior é o desejo de consumir, a fim de se preencher um sentimento de vazio interno? Não sei se concordo inteiramente com isso... Mas deve ser verdade. E assim, lá vai se formando o povo consumista e cheio de dívidas. E cheio de dívidas, lá vai o povo consu

The woman in black

Ela tem a pele bem maquiada, com uma base super potente, e os olhos pintados de forma carregada. Os cílios muito longos e muito falsos. Usa sombra forte, e escurece e engrossa a sobrancelha de uma maneira quase perfeita. Ela fica linda com toda essa extravagância, confesso. Algumas vezes, ela usa lentes coloridas, nuns tons de verde ou azul que combinam com sua pele, que por sinal, é muito pouco vista. Às vezes, só posso ver o tom da sua pele, imaginando-o, fazendo minha fantasia criar a cor. É difícil ver a pele, embaixo de tanta maquiagem e panos, já que seu suposto belo rosto, está quase todo coberto.  Nao é uma burqa cinza e suja que ela usa, apesar de que pareça muito com uma. Mas um pano preto, a niqab, que cobre seu rosto por completo, e que algumas vezes, tem uma pequena linha vertical que separa seus olhos, e que prende a base do nariz, ao início da testa, como uns óculos. Fica estranho. E quadrado.  Foto Tumblr Observo-a comer num restaurante. Algumas vezes, ela co